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domingo, 18 de abril de 2021
Introdução ao PowerPoint - ppt carregar
Introdução ao PowerPoint - ppt carregar: Introdução ao PowerPoint Índice Conhecer o PowerPoint Criar a primeira apresentação Personalizar Apresentar Onde obter mais ajuda e sugestões 1 2 Este diapositivo, mais uma vez, utiliza um esquema automático de diapositivos de título. No entanto, foram personalizadas algumas coisas. Optámos por não mostrar marcas de verificação predefinidas, utilizando o botão ‘Marcas’, na barra de ferramentas ‘Formatação’. Em seguida, foram desenhadas formas automáticas de botões de acção em branco que foram definidos para saltar para as respectivas secções do ficheiro. Digitámos os números em ‘Forma automática’ fazendo simplesmente clique sobre a forma, escrevendo e, rodando-os um pouco para lhes dar um ar informal. Para tornar possível saltar, a partir do texto, para as respectivas secções da apresentação, tínhamos duas alternativas. Podíamos ter utilizado a ferramenta ‘Hiperligação’, mas não queríamos que o texto ficasse sublinhado como numa hiperligação padrão, por isso criámos sobreposições transparentes desenhando rectângulos com a linha e o preenchimento definidos como ‘Sem linha’ e ‘Sem preenchimento’ respectivamente e, atribuímos-lhes em seguida, definições de acções a partir do menu ‘Apresentações’. Estas sobreposições transparentes foram...
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
quinta-feira, 21 de março de 2013
AUTISMO NA ERA DA INDIGNAÇÃO
17/03/2013
- 08h03
O autismo
na era da indignação
LUIZ
FERNANDO VIANNA
ESPECIAL PARA A FOLHA
RESUMO Pai de um menino com autismo, jornalista faz
apanhado dos discursos sobre a síndrome, tanto no campo social e midiático como
nos estudos científicos. Apesar de progressos pontuais, como lei aprovada em
dezembro passado, a carência de políticas públicas no país e a desinformação
alimentam o preconceito vigente.
No filme "As Chaves de Casa" (2003), de
Gianni Amelio, Nicole (Charlotte Rampling) diz a Gianni (Kim Rossi Stuart) como
percebeu que ele, embora negasse, era o pai de Paolo (Andrea Rossi), um
adolescente com deficiências físicas e intelectuais: pela vergonha estampada em
seu rosto. A vergonha é um sentimento que também não abandona quem tem um filho
com autismo --eu tenho um, de 12 anos.
Se antigamente o deixaríamos trancado em casa, para
não expô-lo (e não nos expormos) aos olhos da sociedade, hoje nos esforçamos
para levá-lo à praia, ao cinema, às compras e, sobretudo, à escola. Mas a
vergonha está, com frequência, na nossa cara, porque na cara dos outros à volta
estão o desconhecimento, o desconforto, ou pior, o escárnio, o nojo.
Antes (e ao lado) da vergonha, vêm o luto e a
culpa. Depois vem a indignação. Essa divisão esquemática não sobrevive ao crivo
de nenhum psicólogo ou psiquiatra. Não tem problema: uma coisa que um pai de
autista aprende logo é a se lixar para certos crivos. Assim como nossos filhos,
temos um mundo bem particular.
Quem ri de nós ou faz cara feia costuma ser alvo de
iras avassaladoras. É o que anda acontecendo. Se vivemos numa era em que tudo é
motivo de indignação (no Facebook, nas conversas pelo celular, nas mensagens
anônimas nos sites de notícias, nos programas matinais de rádio, nas revistas
semanais, às vezes até em praças públicas), também queremos, em nome dos filhos
que tanto amamos, nosso quinhão de gritos. A ONU legitima os que poderemos dar
no próximo 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
SÍNDROME
Um resumo sobre o autismo: ele se caracteriza por
problemas na comunicação (mesmo as pessoas verbais têm fala atípica e
dificuldade para expressar ideias e sentimentos); na socialização
(possibilidade de mal-estar em meio aos outros, pouco contato visual e
compreensão por vezes precária das conversas); e no comportamento (padrões
repetitivos e movimentos estereotipados, como balançar o corpo). É uma
síndrome, um conjunto de sintomas, não exatamente uma doença. No Brasil, não há
qualquer estatística, mas pesquisas em outros países apontam para algo como um
autista em cada cem habitantes. Você não sabe ou não quer saber, mas tem um aí
ao seu lado.
Percebi que meu filho poderia estar nesse quadro da
maneira que a maioria dos pais percebe: em função do atraso na fala. Aos dois
anos, seu vocabulário era muito pequeno e pouco funcional. Depois de uma
romaria por terapeutas, processo sofrido e também usual, o diagnóstico foi
fechado quando ele contava quatro anos.
Por vício de repórter, que costuma encarar missão
dada como missão cumprida, fui apurar o que era necessário fazer para, digamos,
resolver a questão. Descobri que o buraco era tremendamente profundo. E que a
questão nunca se resolve, é para sempre. Ao menos não fiquei patinando no luto,
que é aterrador. O diagnóstico significa o desmoronamento das habituais
fantasias acerca de filhos e um xeque-mate na própria vida. Do luto à luta leva
tempo.
Há dois meses, em seu blog no site da Folha
(assimcomovo ce.blogfolha.uol.com.br), o jornalista Jairo Marques chamou os
autistas de "povão tchubirube", entre outras brincadeiras.
Centenas de pais protestaram junto ao jornal e nas
redes sociais. Não vou dizer que gostei dos termos, mas, talvez por conhecer
Jairo e saber que ele jamais teria um gesto preconceituoso, não me incomodei.
Embora compreensível, a reação foi exagerada.
É diferente do quadro "Casa dos
Autistas", que a MTV apresentou em 2011, com Marcelo Adnet e outros
fazendo --com um alcance, multiplicado pelas sucessivas postagens do vídeo na
internet, muito maior do que o de um jornal--, a propaganda do bullying, do
escárnio. Participei do movimento que levou a emissora, mesmo com relutância, a
se retratar. Jairo riu, não escarneceu. E humor que anda na linha não é humor.
Mas humor que agride quem não pode se defender tampouco o é.
Passamos por algo muito pior no final de 2012. Em
14 de dezembro, Adam Lanza, de 20 anos, matou 20 crianças e seis mulheres numa
escola da cidade de Newtown, em Connecticut, nos Estados Unidos. Antes, matara
a própria mãe em casa. E, depois de dar por concluído o massacre, atirou em si
mesmo.
Seu irmão Ryan disse que Adam era "meio
autista". A frase correu mundo, esteve em primeiras páginas e despertou
nos meios de comunicação um interesse por investigar as relações entre autismo
e matanças em série. Os resultados ficaram entre a frustração das pautas, por
inexistência de tais relações, e a disseminação do preconceito, por ignorância
de quem resolveu tratar do assunto.
Dois dias após a chacina, o "Domingão do
Faustão", programa da Globo cujo repertório de atrações já é habitualmente
nefasto, dedicou longos minutos a uma entrevista de seu apresentador com uma
desastrada psicóloga que, mesmo sem desejar, conseguiu misturar Síndrome de
Asperger (forma branda de autismo que era, acredita-se, um dos diagnósticos de
Lanza) com psicopatia. A indignação dos pais, preocupados com mais esse estigma
sobre seus filhos, virou uma onda que desaguou em outras reportagens, agora
mostrando o absurdo da mistura.
A emissora promete tratar do assunto na próxima
novela das 21h. Aguardamos com atenção e esperançosos, pois pode ser uma ótima
forma de divulgação e esclarecimento.
LEI BERENICE
Foi num gesto contra o preconceito e o isolamento
que a presidente Dilma Rousseff sancionou, em 27 de dezembro do ano passado, a
lei nº 12.764/12, conhecida como Lei Berenice Piana, em homenagem à mãe de
Itaboraí (RJ) que tanto batalhou pelo projeto que pode beneficiar seu filho e
milhares de outros.
A nova lei dá direito a atendimento especializado e
obriga o Estado e as entidades privadas a garantir o acesso à educação e ao
mercado de trabalho, dentre outros direitos. Escolas e planos privados de saúde
não poderão rejeitar pessoas com autismo, e estas terão como reivindicar
prioridade no atendimento. O gestor escolar que recusar a matrícula de um aluno
com deficiência pode receber multa de 3 a 20 salários mínimos.
Os pais e profissionais que defendem o ensino
especial (por acharem que os alunos aprendem mais assim e ficam protegidos de
bullying, argumentos sérios que devem sempre ser levados em conta) vêm se
queixando de uma desvalorização dos trabalhos voltados diretamente para
autistas. Mas a redação da lei não impede que as escolas especiais continuem a
existir. O que não tem havido é incentivo público a essa ala da educação, opção
que precisa continuar a ser debatida.
Mais urgente é a criação de uma política pública
para o autismo. O Estado brasileiro praticamente ignora o assunto. E o passo
inicial é simples: propagar pelo país a experiência da Casa da Esperança, de
Fortaleza, referência internacional em atendimento a autistas. O que vemos, no
entanto, é a casa lutando para não fechar as portas, pois a prefeitura da
capital cearense retarda o repasse das verbas do SUS. A maioria dos autistas
não vota, então não interessa aos donos do poder.
E quem somos esses agora indignados, os pais? Por
muito tempo, fomos os vilões responsáveis pelo autismo dos nossos filhos.
A síndrome começou a ser descrita na década de 1940
pelo norte-americano Leo Kanner (1894-1981) e pelo austríaco Hans Asperger
(1906-80), cada qual em seu continente. Não havia, naquela época, condições de
pesquisa que permitissem a médicos e psicólogos saber o que sabemos hoje: o
autismo é fundamentalmente genético, embora, ao contrário da síndrome de Down,
ainda não seja possível isolar os genes causadores, pois são incontáveis, e
seus funcionamentos variam muito de acordo com a combinação entre eles.
Resulta que o chamado "espectro autista"
é amplo: dos casos severos, com comprometimentos absolutos, aos de alto
funcionamento, que podem desenvolver sofisticadíssimos softwares no Vale do
Silício. E há os savant, aqueles que têm facilidade extrema para alguma
atividade específica, como a matemática para Kim Peek, o americano que inspirou
o filme "Rain Man" --e que tinha enormes prejuízos em outros campos.
Meu filho está no TID-SOE (Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem Outra
Especificação), a larga faixa entre os extremos.
FRIEZA
A psicanálise assumiu, já em meados do século
passado, a hegemonia nas interpretações sobre o autismo. E, então, como não
poderia deixar de ser, a culpa sobrou para os pais. Mais especialmente, para as
mães, cuja suposta frieza causaria o problema.
Bruno Bettelheim (1903-90), psicólogo
norte-americano nascido na Áustria, cunhou a expressão "mãe
geladeira". E chamou os autistas de "fortaleza vazia". As duas
imagens, temos certeza hoje, são falsas e estúpidas. Ele e seus seguidores defendiam
que os filhos fossem afastados das mães para que se cogitasse alguma evolução.
O mal que Bettelheim fez a gerações de pais jamais será sanado.
Parece haver um lugar, no entanto, em que suas
ideias continuam sendo respeitadas e a psicanálise permanece hegemônica quando
o assunto é autismo. Esse lugar é a França.
Ao menos, é o que tenta provar Sophie Robert nos 51
minutos de seu filme "Le Mur" ("O Muro"). Concluído em
2011, o documentário continua sofrendo fortes críticas de psicanalistas
franceses, e sua exibição em cinemas e na TV foi vetada, mas é facilmente
encontrado --e muito acessado-- no YouTube. Três dos psicanalistas
entrevistados estão processando a diretora, alegando que tiveram suas falas
deturpadas.
É mais correto supor que a edição foi capciosa,
selecionando o que de pior eles devem ter dito. Sophie Robert não demonstra,
nas conversas, a agressividade de um Michael Moore, que nem sequer simula
equilíbrio na feitura de seus documentários, mas não contemporizou na montagem
dos depoimentos. Denuncista, o filme é uma colagem de declarações assustadoras,
feitas por discípulos tardios de Bettelheim que, embora digam atender autistas,
não aparentam ter a mais vaga ideia do que seja conviver com eles.
O problema é que pessoas como essas não vivem em
cativeiro na França. Estão soltas por aí. A primeira terapeuta à qual levei meu
filho tinha um consultório chique no Leblon (zona sul do Rio), com divã
tradicional e tudo. Durante mais de um ano, ela se recusou a dar um
diagnóstico, pois dizia que essa era uma questão restrita ao relacionamento com
o cliente, no caso uma criança pouco verbal de três anos de idade. Afirmava que
seu papel era estimular o inconsciente do meu filho a aflorar. E que o autismo
era um tipo de psicose (absurdo sepultado nos anos 1970, quando ela devia estar
na faculdade). De quem era a culpa de tudo? Dos pais, que brigavam muito.
No seu maniqueísmo, o filme de Robert acompanha
dois adolescentes: Julien, que não avançou por ter ficado submetido à
psicanálise, e Guillaume, que progrediu por ser tratado com os métodos
comportamentais, principalmente o programa de exercícios ABA (Applied Behavior
Analysis, ou análise comportamental aplicada). Ao reduzir assim um universo tão
amplo (não há um autista igual a outro), a diretora comete um grande erro e faz
propaganda enganosa.
A linha comportamentalista predomina nos países
anglo-saxões, sobretudo nos Estados Unidos. Consiste numa série de práticas
visando à integração social a partir da repetição, do reforço das convenções,
da orientação sobre o que se pode ou não se pode fazer. Por um lado, o trabalho
garante, se bem-sucedido, a adequação às regras da convivência. Por outro lado,
parte do princípio de que existem cânones a ser cumpridos e que cada pessoa
deve se adequar a eles, em vez de ter suas características peculiares
compreendidas.
Voltando a um exemplo pessoal, a segunda terapeuta
de meu filho era comportamentalista. A substituição foi propositalmente
radical. Ela atendia numa clínica de Botafogo (também zona sul, mas com um PIB
bem inferior ao do Leblon) e estava sempre elegante, o que levou minha irmã a
chamá-la de "Barbie terapeuta". Não se sujava, embora trabalhasse com
crianças, porque ficava sempre numa mesa diante delas, fiel às regras do
programa ABA. No caso de meu filho, queria, por exemplo, ensiná-lo o que era
amarelo, azul, vermelho, mas na abstração, sem casar as cores com nada que
fizesse parte do cotidiano dele. Quando a paciência se esgotava, ele dizia
"cocô" e se fechava no banheiro, fugindo da chatice inútil.
VOZES
Sem querer também incorrer no erro do reducionismo,
os extremos de que se falou até aqui refletem, a meu ver, o seguinte problema:
como um dos pilares do autismo é a deficiência na comunicação, os discursos
produzidos são, em sua quase totalidade, sobre a síndrome e sobre as pessoas
afetadas por ela. Há disputas pelas representações do autismo: catastrofismo x
esperança; educação especial x inserção escolar; psicanálise x
comportamentalismo... É um grande alento quando surgem vozes, por assim dizer,
de dentro do autismo.
A que mais me impressionou em tempos recentes foi a
de Carly Fleischmann, uma adolescente canadense que, após viver 11 anos fechada
em si mesma, abriu-se para o mundo a partir do computador. Passou a escrever
como ninguém supunha que ela pudesse. E começou, digitando, a falar de sua
condição e a responder sobre autismo a quem a consulta. Na última vez em que
vi, sua página no Face- book estava com 69.561 "curti". No site
brasileiro em que descobri a história, o texto sobre Carly tem 113 mil compartilhamentos.
É enriquecedor ver o curta-metragem "Carly's
Cafe", feito a partir dos relatos dela. A câmera filma do ponto de vista de Carly,
mostrando como uma pessoa com autismo é sensível a sons e outros estímulos, e
como ela se frustra por não conseguir expressar o que quer.
O inglês Mark Haddon não é autista, mas escreveu em
2006 um belíssimo romance, narrado por um adolescente que tem a síndrome.
"O Estranho Caso do Cachorro Morto" [trad. Luiz Antonio Aguiar, Record,
288 págs., R$ 37,90] reproduz, inclusive com mapas e desenhos, como funciona a
cabeça de um autista obcecado por cálculos e que segue seu raciocínio lógico
para tentar descobrir quem matou um cachorro, fato do qual é suspeito. Dos
muitos títulos dessa minibiblioteca temática que acabei formando, esse é um dos
meus favoritos.
Para quem vive próximo do tema, o caso
paradigmático de sucesso é o da norte-americana Temple Grandin.
Hoje uma senhora de 65 anos, Grandin foi uma
criança condenada por médicos a passar a vida internada. Trilhou outro caminho
graças, principalmente, à sua paixão por animais. Inventou o método menos
sofrido --e largamente mais utilizado-- de abate do gado, que não percebe que
vai morrer. Foi tema do belo ensaio que dá nome ao livro "Um Antropólogo
em Marte" [trad. Bernardo Carvalho, Companhia das Letras, 352 págs., R$
54], do médico e escritor inglês Oliver Sacks --a expressão do título é como
Grandin define um autista. Escreveu em 1986, com o auxílio da jornalista Margaret
M. Scariano, a autobiografia "Uma Menina Estranha" [trad. Sergio
Flaksman, Companhia das Letras, 200 págs., esgotado]. Foi tema do filme
"Temple Grandin" (2010), com Claire Danes em seu papel. E palestras
suas estão disponíveis no YouTube.
Aprendi lendo Grandin que mesmo os autistas pouco
ou nada verbais entendem praticamente tudo o que é dito à sua volta. Passei a
ser mais cuidadoso e a respeitar mais os longos silêncios do meu filho.
O geólogo baiano Argemiro Garcia é uma referência
no Brasil entre pais de pessoas com autismo. Coordena a maior lista de
discussão sobre o tema na internet e, à frente da Afaga (Associação de
Familiares e Amigos da Gente Autista), participa de campanhas importantes. Em
um texto inicialmente dirigido às mães, "Bem-vinda à Montanha-russa",
ele afirma que é dispensável perguntar se nossos filhos serão como Temple
Grandin. "Eu jamais vou conseguir ser como ela!", ressalta, antes de
tocar num ponto fundamental para quem tem um filho com autismo: "Duvido
que ele venha a se tornar um canalha. Isto, nunca ouvi falar que um autista
fosse". Infelizmente, por não saberem mentir e manipular, ficam mais
vulneráveis a canalhas mentirosos e manipuladores.
Acho que é por isso que nos indignamos tanto quando
ouvimos a palavra "autista" usada como ofensa --substituindo, por
exemplo, "mongoloide" e "retardado mental", hoje não tão
ouvidas, felizmente. Esse uso é muito comum entre políticos. E ninguém vai
querer o diagnóstico do próprio filho na boca de um Renan Calheiros, de um
Eduardo Cunha. Mas a estupidez é democrática: o adjetivo também já foi
endereçado pelo intelectual Emir Sader a Ana de Hollanda, ex-ministra da
Cultura.
Por mais santa que seja a nossa ira, não somos
policiais da língua. Temos que moderar nossa caça às bruxas. Escrevi várias vezes
aqui a palavra "autista". Mas ela vem sendo banida dos discursos de
pais e profissionais, que a consideram estigmatizante por transformar uma
característica em algo que define totalmente a pessoa, nublando sua
subjetividade. Pois imaginem se, num texto de 17 mil toques, eu tivesse de
escrever sempre "pessoa com autismo". Prefiro mandar às favas o que
vejo como preciosismo.
O politicamente correto também quer nos forçar a
dizer que é muito legal ter filhos com determinados problemas, como se isto nos
tornasse seres humanos melhores. Quando vejo programas de TV sobre a família
Kirton (um casal americano, John e Robin, e seus seis filhos autistas), fico me
perguntando que tipo de fanatismo religioso impede dois adultos de parar de
procriar se está claro que a combinação de seus genes é problemática.
"Quando se tem filhos deficientes, é preciso
suportar ouvir muita bobagem", escreve o francês Jean-Louis Fournier, pai
de dois meninos com problemas genéticos (não autistas) em "Aonde a Gente
Vai, Papai?" [trad. Marcelo Jacques de Moraes, Intrínseca, 160 págs., R$
9,90], um livrinho que concilia, sem censuras, amor e humor. "Há também os
que dizem: 'O filho deficiente é um presente dos Céus'. E não dizem isso como
piada. Raramente são pessoas que têm filhos deficientes. Quando se recebe esse
presente, dá vontade de dizer aos Céus: 'Ah, não precisava...'."
Mesmo em forma de sarcasmo, é possível manter a
alegria quando se tem algo como o autismo tão perto, tão dentro de você. Se não
for assim, é impossível suportar. Mas não subestimem nossa ira. Somos mais
incontroláveis do que nossos filhos.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
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